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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Jurunas e Tempo de manga

Moro num bairro muito festeiro. O Jurunas está festejando a passagem de ano desde ontem, 30, com muitos fogos, carro som, música de carnaval, muita gente pelas ruas, muita bicicleta, supermercados cheios e gente feliz. O sorriso está nos lábios do povo jurunense, essa gente simples e pequena, que gosta de dançar.
Belém começa a sentir os primeiros sinais do inverno. Isso significa que as chuvas deram o ar de sua graça - muito devagar - mas o ar da manhã é friozinho, e tem vento e muita, mas muuuita manga. As mangueiras estão carregadinhas e o chão das ruas está repleto de mangas de todos os tamanhos e cores - amarela, vermelha, verde. O vento bate nas mangueiras e elas caem aos nossos pés. A gente tem que levar sempre uma sacola de supermercado, porque dá pra catar e fazer suco; e tomar cuidado com nossas cabeças. Elas fazem estrondo ao cair no asfalto ou nas calçadas, batendo na folhagem e enchendo nossos olhos de cor e beleza. Janeiro vai chegar com a abundância delas matando a fome de tantos que vivem situação difícil. Belém é mesmo a cidade das mangueiras, dos belos túneis, dos meninos catando manga no pé e de toda gente catando mangas pelo chão nessa época tão linda. Feliz Ano Novo!!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Periquitos verde-amarelos

Hoje, ao entardecer, passei pela Praça Santuário, em frente à Basílica de Nossa Senhora de Nazaré. O espetáculo de fim de tarde é protagonizado pelos milhares de piriquitinhos verde- amarelos que se confundem com o verde das mangueiras.
O barulho é ensurdecedor. Mas não há como não parar para apreciar sua busca pelo lugar certo para passar a noite que se aproxima. Como as três samaumeiras são muito altas e têm muitos galhos, os periquitinhos voam e andam por eles, e também entre uma e outra árvore, sem cessar. E todos tagarelam, produzindo um som alto, contínuo, agudo e ensurdecedor que chama a atenção de todos que passam por ali.
A natureza ainda consegue ser pródiga e maravilhosa com o Homem amazônico. Que haja muitas mangas - belas, grandes e maduras por dentro - para alimentar esses pássaros de Deus que nos enchem os olhos e a alma. Terra pródiga de belos espetáculos e gente feliz, que se toca e se fala. Belém, eu te amo!

domingo, 21 de dezembro de 2008

Inverno Amazônico

Há 37 anos conheci Belém. Nos meses de novembro e dezembro muitos dias amanheciam com chuva. Depois abria o sol; e à tarde chovia novamente. E o sol ficava assim como que brincando de esconde-esconde com a chuva, que era abundante e fazia com que parecesse que até nossos ossos estavam encharcados. Também não havia enchentes nas proporções de hoje no sudeste do Brasil. Hoje, quase quarenta anos depois, as chuvas são escassas aqui. E o sudeste se desmancha com tanta chuva, enchentes e inundações. Mas aqueles que desmatam acham que a derrubada da mata não tem nada a ver com isso.
Em 2008 o inverno, que é a estação das chuvas constantes e das grandes águas na Amazônia, não chegou. Aqui em Belém os dias amanhecem cinzentos como os dias paulistanos, mas a nossa poluição não vem das indústrias. Nós respiramos fumaça, nós engolimos fumaça. Estamos envoltos em fumaça. É assim que temos amanhecido todos os dias – cheirando a fumaça das queimadas. Como a chuva não vem, eles desmatam por um período maior.
Nós, reles cidadãos desse país corrupto, onde o Ibama, que deveria ser o órgão a nos proteger da devastação é que a incentiva, com suas entranhas corroídas pela ganância de hoje e sempre, focadas no dinheiro – mais e mais – não há limites para o enriquecimento ilícito... quê fazer?
A mata queima e vira cinza, fumaça. Só há desmandos. As multas aplicadas são só para inglês ver – apenas 2% delas são pagas e nada acontece com quem não paga. Dá pra acreditar? Elas são ignoradas tanto quanto o próprio Ibama não quer ver. Nada acontece no Brasil com quem enriquece ilicitamente, roubando das gerações futuras a riqueza da flora e da fauna, o clima ameno do inverno amazônico e, de nós, roubando saúde e a esperança de um futuro equilibrado para as próximas gerações.
Por que continuamos a eleger pessoas comprometidas tão somente com seu bolso e com o poder? Por que não fazemos uma limpa no Congresso? Nós não temos mais, neste país, pessoas sérias, transparentes, que não se deixem seduzir pelo poder? Tudo se resume a dinheiro e poder? Como pode haver paz onde se planta tanto desgoverno, cobiça, corrupção, descaso com o próximo? É possível romper esses grilhões e mudar?

sábado, 20 de dezembro de 2008

Pau de Verônica

Um dia, ao visitar uma amiga, encontrei-a fraca, no fundo da rede, e pálida como cera. O povo que não tem dinheiro para consultas médicas, nem para pegar táxi, ou adquirir remédio de farmácia, sempre recorre à flora para se por de pé novamente, recuperando-se das mazelas do corpo. Foi assim que por qualquer 1 real comprei um pau de Verônica e levei para minha amiga. A Verônica é usada em infusão. Ela, como o pariri, tisna a água de um avermelhado escuro, bonito, que a gente vai tomando como se fosse água, de dois em dois dedinhos, toda hora, toda hora. Essa minha amiga, exagerada, começou tomando logo um copo inteiro e ficou tomando aos pouquinhos depois. No dia seguinte, com se fosse mágica, a hemorragia havia cessado e ela já conseguia ficar de pé! E no terceiro dia voltava a trabalhar. A Verônica estancou a hemorragia e fez com que ela novamente ficasse corada e disposta. Essa casca (Veronica Officinalis) também é usada na sabedoria popular para problemas de útero e ovários, além da anemia, e afecções urinárias. A Amazônia tem remédio para todos os males, só não consegue estancar a ganância de quem quer transformar suas riquezas em pasto e campos de arroz. Vamos assistir à sua destruição de braços cruzados?

sábado, 11 de outubro de 2008

A caixinha de miriti

O miriti é uma fibra tirada de uma palmeira daqui da Amazônia. Ele é o nosso isopor natural, o que não polui. Quem não conhece a Amazônia não pode imaginar tudo o que nossos artesãos são capazes de fazer com o miriti. Nessa época do Círio eles vêm todos pra Belém, misturar-se aos fiéis da procissão e vender sua arte colorida com tintas também naturais, que tanto encantam as crianças e adultos bobos como eu.
Nossos artesãos sabem que a multiplicidade de cores atrai os olhos das crianças e que, pelo fato da festa do Círio de Nazaré acontecer próxima ao Dia das Crianças, os pais quase sempre cedem e compram os brinquedinhos de miriti para seus filhos - também porque eles são bem baratinhos.
Abaetetuba, cidade próxima a Belém em viagem por água e por terra, é o pólo produtor. Lá estão sediados muitos artesãos, cada qual com seu estilo e com seus motivos. Mas, independente de quem seja ele, os brinquedos são de uma pureza indescritível e reproduzem sempre formas de bichos familiares. Então, tem sempre muita cobrinha, tem o pula-pula, o camarão, e o come-come e tantos outros, e todos com movimento, como vocês poderão ver nas fotos que farei amanhã e postarei aqui para alegrar seus olhos. Todos pendurados onde? Numa vara furada de mi-ri-ti! Ela faz os brinquedos adquirirem movimento enquanto o artesão anda pelos caminhos da procissão. É ir-re-sis-tí-vel! Também vou comprar o meu!
Eu ganhei uma caixinha de miriti! Tão linda, tão bem feitinha, tão bem acabada... dentro dela, além de uma camiseta que dá certinho em mim e uma medalhinha com a imagem da santinha, ela veio cheia de perdão e de amor. Fiquei tão emocionada que este círio já entrou pra minha história, e agradeci muito a Deus todo bem que tenho recebido em minha vida. Amanhã estarei vestida com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré pra ver a santa passar na corda, beber toda emoção da fé de todos os romeiros vindos dos quatro cantos desse nosso Brasil e sentir-me irmanada com esse povo tão especial. Então farei as fotos que vão encantar vocês.
Viva Nossa Senhora de Nazaré!! VIVA!!!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Anjos da Praça

Muitas cidades do Brasil têm praça da República. Belém também. Mas a nossa tem anjos.
Essa é a diferença. Além do tamanho - nossa praça, de tão grande, está dividida em três. A parte do chafariz é triangular e relativamente pequena.
A parte onde está situado o teatro da Paz - esse monumento à era da prosperidade que a borracha nos legou
tem ainda um grande coreto que está sendo restaurado,
e belas estátuas. Essa parte vai da av. Nazaré até a rua do teatro que, para o lado direito, em direção ao Basa, é a rua Carlos Gomes. Depois vem a grande praça, num bloco só de pura beleza. E lá estão eles, sentados no obelisco
protegendo e vigiando. Eles não saem de lá e qualquer um pode apreciá-los.
Os meninos descalços, os desempregados, os mendigos e qualquer transeunte cansado pode repousar suas pernas e olhos nos bancos da praça, à sombra de tantas árvores que a enriquecem. A moldura da nossa praça são os túneis de mangueiras, mas há também a grama bem cuidada e verdinha que - pasmem os paulistas! - é para ser pisada, sentida, admirada nesse planeta sol e chuva.
Os caminhos da praça sobem e descem. E há pequenos coretos onde se pode namorar,
e laguinho com belas aves muito brancas como requer aos anjos guardiães. E mais: as pessoas se falam sem se conhecer, como se fôssemos uma grande família com muitos parentes que não víamos há muito tempo e que encontramos na praça. E as crianças nos atendem e os descalços têm fome - a fome do Brasil - fome de grãos e de letras, fome de cuidados e de amor.
As mangas começarão a cair agora no final do ano, sempre depois da chuva ou no vento que a anuncia. E tem também, bem ali próximo ao obelisco, o pequeno teatro que leva o nome do nosso famoso e saudoso maestro Waldemar Henrique e que é tão aconchegante. Nossa praça é uma delícia e, aos domingos, a feira do artesanato a enfeita com outras cores e traz muitas pessoas a passear por suas alamedas. Essa é a nossa praça da República!

Círio

Aumentou o movimento na cidade. Muita gente em todos os lugares. Tudo está sendo preparado com antecedência para o início da quadra nazarena, que se inicia amanhã, sábado, com as procissões. As casas receberam pintura nova, dentro de casa tudo foi faxinado - tudo reluz. Os corações também se prepararam para a santa adorada com peregrinações, reuniões para o terço entre vizinhos e mimos que aproximam as pessoas, desarmam os espíritos e enchem os nossos corações de muito amor e solidariedade.
E temos também os fogos que, todos os dias nos lembram que o tempo é para amar e ter esperanças renovadas na fé à misericórdia de Nossa Senhora de Nazaré.
E as luzes: daqui de casa posso ver os fogos do anoitecer iluminar e enfeitar o céu. Vejo também uma das torres da Basílica toda serpenteada de luz, assim como a roda-gigante do parque. A sensação de pertencer a tudo isso é indescritível. Sinto-me abraçada e acolhida.
Depois, mesmo com os olhos fechados, o ruído de muitos pés andando sem cessar, na expectativa de ver a santa passar no meio da multidão, protegida pela corda que tanto reflete a fé dos paraenses, nos mostra que a vida deve ser sim o sacrifício com alegria de servir e amar sempre, sem nunca perder a esperança.
Domingo, quem tiver fartura com maniçoba e pato no tucupi, poderá chamar seu vizinho desvalido para a sua mesa e estar irmanados nesse tempo de amor.
FELIZ CÍRIO, meus queridos, para quem tiver o coração amoroso, para quem tem fé como o paraense!

sábado, 6 de setembro de 2008

Feira da Cultura

Hoje tem Feira da Cultura no Colégio Santa Rosa. As crianças se reúnem, cada qual com sua turma, na sua barraca. Elas têm que saber dar a explicação sobre o que está sendo exposto pela sua turma a todos os que vierem visitar sua barraca - tanto alunos, quanto pais, responsáveis e professores.


A Feira da Cultura é um motivo de reunião que aproxima as crianças e que as faz voltar o olhar para o trabalho das outras turmas também.
Quando meus filhos estudaram lá, eles ficavam particularmente excitados no dia da Feira porque era sempre motivo de muita euforia e alegria para os seus coraçõezinhos.
O burburinho é grande. Todos se movimentam. Os professores e assistentes também estão presentes. Todos falam ao mesmo tempo e o ambiente fica descontraído.
Pais e mães lá estão, alguns participam, outros apenas assistem, mas todas as crianças querem que seus pais cheguem em suas barracas para ouvir a explanação, para mostrar que sabem se desembaraçar de suas obrigações. Os alunos estão no ambiente deles, sabem de tudo, onde está o quê ou quem, do que fala sua barraca, o nome de todos os colegas, enfim, são eles que dominam. Mas enquanto não chega sua vez de ser responsável pela barraca eles podem dar um giro pela feira, brincar e fazer o que eles mais gostam, que é se movimentar sem parar. E não cansam, não perdem o fôlego, não se importam se estão suando aos montes... e os olhinhos não param um minuto. Tudo vai sendo registrado - serão lembranças da infância querida que passa tão rápido...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Chá de Pariri

Pariri é uma folha fina e longa, bonita mesmo, como se vê na foto.

No chá ela tisna logo a água com seu vermelho escuro. Aqui se usa para combater a anemia, e rapidamente vem a resposta no sangue. A gente coloca na geladeira e toma como água, toda vez que tem sede – e é a toda hora que se tem porque o calor, muita vez, é insuportável e nos faz transpirar muito.
Os chás não devem ser tomados seguidamente por um período superior a 21 dias, diz a sabedoria popular. O organismo dá o retorno antes disso.
As cascas, folhas e raízes precisam ser usadas com critério, porque nem todos estão em condições de ingerir qualquer chá. Por exemplo: quem toma chá da casca de açoita-cavalo realmente consegue baixar o colesterol, mas, como o efeito do chá é mexer com as gorduras do corpo, quem não tiver bom fígado - por onde elas obrigatoriamente passarão - sentir-se-á empachado. A sensação é de quem comeu muito além da conta; a fome desaparece, principalmente na primeira semana. Então, o ideal é que se ajude o fígado a processar toda essa gordura com chá de boldo.
Desses recursos se vale a maioria – que não conta com atendimento razoável do SUS, que não quer ou não pode enfrentar fila para conseguir uma consulta, ou mesmo que não tem recursos para comprar o que aqui chamamos “remédio de farmácia”. Inacreditavelmente há pessoas adultas que nunca se consultaram com um médico e que a elas restou a natureza pródiga da Amazônia para curar ou minimizar suas mazelas.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Lá está

A Praça da República tem os mais bonitos túneis de mangueiras de Belém. Andar sob esses túneis magníficos, de antigas árvores altas e suas majestosas sombras, nos é particularmente agradável.

Quando vem chegando o final do ano as mangueiras ficam pesadas e coloridas de amarelo, rosa, vermelho e verde. Pencas de mangas de todos os tamanhos estão por toda parte e matam a fome de muita gente.
Os carros estacionados à sombra dessas mangueiras, em plena Avenida Presidente Vargas, invariavelmente têm um ou outro amassadinho na capota porque elas caem mesmo, principalmente sob vento e chuva.

Pássaros de várias espécies também aplacam sua fome nesses deliciosos frutos maduros, mas, principalmente para as centenas de periquitinhos de papo amarelo, eles são uma festa.
Pobres meninos chegam com toscos carrinhos de mão em madeira, e trazem longas varas para colher as mangas em pedaços de tecido, ou mesmo em suas velhas camisetas de algodão, onde as aparam para não sofrerem dano na queda que prejudique a venda.
E, assim, nossas mangueiras nos saciam de sombra e frutos, para lembrar-nos da generosidade de Deus e ensinar também a nós como sermos generosos.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O trabalho ou o existir?

O Instituto de Artes do Pará está instalado em antiga construção que pertenceu ao exército, ali na Rua da Basílica, em Nazaré. Doado ao estado, o prédio recebeu adaptações da arquiteta Cláudia Abreu que, com esmero transformou o que era parte de um quartel em espaço de arte, cultura e lazer, aconchegante e acolhedor.

Só a entrada, vista de dentro para fora, já é por si só magnífica, mas, andar pelos seus jardins com arte nos transporta a lembranças de tempos em que crianças brincavam na rua sem medo, cantigas de roda e pula-corda, jogo de amarelinha e jeito de coisa feita em casa.

Nessa época do ano os jambeiros estão carregadinhos e coloridos de vermelho-púrpura. E a gente pode sim catar jambo no pé, lavar e deliciar-se ali mesmo, sem medo de ser feliz.

Os corredores largos, com teto em formato de meia-água, nos dão sensação de amplitude e liberdade, calma, tempo sem pressa – o tempo parado para nosso deleite.

O caos ficou do lado de fora. Senta e vai comer jambo! Festeja seus dez anos com jambos, porque a festa é nossa!

domingo, 17 de agosto de 2008

Agosto

Agosto é mês de volta às aulas, de volta do veraneio, de volta das praias e de volta dos encontros de verão. Também é o mês que antecede as festividades do Dia da Pátria, do Sete de Setembro e do Cinco de Setembro, Dia da Raça. Eu me arriscaria a dizer que o Dia da Raça é, para os estudantes de muitas escolas de Belém, um dia de festa calorosa. Eles já começaram os ensaios desde o retorno às aulas e todos os dias estão lá, tocando nas bandas das escolas. Quando a gente encosta a cabeça na rede pra tirar a sesta, eles começam o baticum. Mas não dá pra aborrecer porque é bonito ver o empenho com que ensaiam, o entusiasmo com que participam e o orgulho que sentem em representar suas escolas. Há incentivo apenas moral para participar do campeonato para eleger a banda mais bonita, mas afiada, que melhor tocou, que acrescentou garra e amor ao seu tambor, triângulo, pratos e os instrumentos todos que compõem as bandas escolares. As crianças ensaiam debaixo de sol forte, pingam de suor, sede é sua companheira: sede de vencer, de ser a melhor, de se destacar, de representar sua escola, de marchar uniformizados e orgulhosos do nome que carregam no peito da blusa da escola. E todos estão com a morenice do verão - pele bronzeada e aspecto saudável, felizes do descanso dos banhos nos igarapés, das brincadeiras de saltar nas suas águas geladas, de pular as ondas das praias do Mosqueiro e experimentar o sabor do mar nas praias de Salinas, Bragança, Marudá, Ajuruteua, Algodoal e tantas outras. A nossa juventude tem mesmo essa leveza, essa felicidade da infância que encontra na adolescência sua continuidade sem preconceito e sem barreiras, com grandes grupos de jovens saindo juntos, passeando juntos, indo ao cinema juntos, de mãos dadas ou abraçados, meninos e meninas que nem sequer de longe sabem que estão plantando em seus corações a alegria de viver e partilhar. Viva o Dia da Raça!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Manhatan Paraense

De onde vejo minha cidade nos acostumamos a chamá-la de Manhatam paraense, porque Belém se espreme entre o rio Guamá e a Baía do Guajará, depois é a BR, saindo pela Belém – Brasília, a faixa de terra que ela teve para se expandir. Mas Ananindeua fica grudada nela, portanto, não lhe restou outra alternativa senão crescer para cima. É impressionante a quantidade de prédios que surgiram nos últimos 20 anos.
Agora, então, parece que a prefeitura endoidou e permite gabaritos de até 40 andares! Nosso solo, todo cheio de veios d’água não é propício a esses exageros, mas a tecnologia manda em tudo e, assim, ficamos mesmo como a ilha americana, e todo terreno vazio vai sendo engolindo pelas incorporadoras e construtoras e os prédios novos não param de surgir todos os dias. Resta o consolo de que eles são coloridos... temos até o Hulk em dois tons de verde!

Andar à sombra das mangueiras

Nossos túneis não são na pedra, ficam mesmo sobre o solo. É delicioso passear sob os túneis formados por grandes mangueiras que, além da sombra maravilhosa, que é um alívio a que todos buscam sob sol intenso, embelezam muitas ruas do bairro de Nazaré - Benjamim, Quintino, Dr.Moraes, Av.Nazaré, Rui Barbosa, José Malcher. Na Praça da República o túnel que se formou na Av.Presidente Vargas, em plena praça, virou cartão postal de Belém de tão lindo que é.
Essas mangueiras alimentam nossa fome no período entre dezembro e março, um pouco mais ou menos. Essa época também é o nosso chamado 'inverno', época em que a chuva recrudesce, a temperatura diminui um pouquinho, o calor alivia, as noites são mais amenas, e as mangas
matam nossa fome.

Como nas praças há muitos trechos com grama - e, detalhe, aqui a gente PODE pisar na grama porque ela foi feita para ser pisada - DELÍCIA - tornaram-se o lugar para onde se pode correr depois da chuva forte: gente, é tanta manga que cai de madura e que a chuva nos entrega com generosidade que pode-se até levar uma sacola pra catar. Catar manga depois da chuva na grama da praça é um quadro à parte do qual participam adultos, adolescentes e crianças. E é uma delíiiiiiicia!

Aqui mangueiras centenárias convivem com mangueiras pequenas, jovens, mas que igualmente florescem, frutificam e nos dão grandes sombras. A sombra das mangueiras é a única que é realmente ventilada, onde o sol não esquenta nossas cabeças e que nos propicia um espetáculo à parte nessa nossa Belém que tanto encanta.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Calor

O verão em Belém é particularmente quente, mas a umidade relativa do ar é sempre alta e, por causa dela, transpira-se muito, muito mesmo, a gente literalmente pinga. É comum olhar para as pessoas na rua e vê-las com a roupa molhada de suor, como se elas tivessem acabado de fazer exercício. Mas nem precisa se mexer muito pra transpirar, um banho é o suficiente. Quando a gente termina de se enxugar já está transpirando novamente, por isso muitas pessoas não se enxugam e vestem a roupa com o corpo molhado. Uma providência comum que se toma aqui para prolongar um pouco mais a sensação de frescor do banho é andar com os cabelos molhados, bem molhados, de preferência pingando na blusa. Outro hábito bem paraense é tomar um banho principal, completo, e vários outros banhos que chamamos de 'ducha', onde a gente fica embaixo da água do chuveiro só mesmo pra se refrescar. O verão intenso nos dá bem a noção da necessidade de se dar uma parada nas horas mais quentes do dia e retomar a atividade só quando o sol já ficou mais ameno. Hoje em dia as pessoas vivem no ar condicionado para compensar a impossibilidade dessa paradinha para a sesta, devido ao ritmo da vida moderna. Aos que gostam do frio e abrem mão das delícias do verão é aconselhável não vir a Belém nos meses de julho a setembro, de verão intenso. Mas nos outros meses do ano também se pode curtir praias e igarapés, piscinas e clubes, passeios de barco, banhos de cachoeira, pescaria, sorvetes, e muita cerpinha gelada pra refrescar.

domingo, 10 de agosto de 2008

Samaumeira

A antiga Praça Justo Chermont, agora conhecida como Praça do Santuário, foi completamente modificada para contemplar a festa do Círio, porque fica em frente à Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, onde a santinha permanece depois da procissão do segundo domingo de outubro, e recebe a visitação de tantos que nela crêem.




Essa praça não era gradeada como hoje, era aberta, como todas as outras praças. Mas a obra teve o bom senso de preservar sua maior riqueza centenária, que são as samaumeiras ou com u, sumaumeiras. Elas são um espetáculo à parte: muito altas, com os galhos se espalhando majestosamente e nos oferecendo sua sombra magnífica sob o sol escaldante, são de uma beleza que se destaca. Seu grande tronco e a forma com que suas raízes adentram o solo nos dão uma mostra do seu espetáculo e imagem da grandeza de Deus em nossas vidas.
O ano da samaumeira abriga vários momentos diferentes, mas o que mais me comove é quando estão todas verdes, e as mangueiras que circundam a praça estão carregadas de mangas. É quando chegam os periquitinhos. São centenas, milhares deles! Fazem grande algazarra e despertam os moradores das redondezas para sua presença, comem mangas e se abrigam sob os galhos das samaumeiras. Eles se deslocam em bandos e parecem nuvens de tantos que são, e permanecem por meses.
Quem gosta de natureza pode sentar na praça e observar, porque eles são um espetáculo de cor e música aos nossos sentidos. Terra minha querida, de tantos encantos e cores e que tão bem faz à minha alma, eu te amo.

sábado, 9 de agosto de 2008

Praça

A Praça Batista Campos é a mais bonita que já conheci pessoalmente. De qualquer ângulo que for observada, o Belo está lá para o prazer dos nossos olhos. A variedade de árvores, a maneira como elas foram dispostas, as plantas que dão flores, as águas que atraem garças de longos pescoços brancos, a disposição dos bancos e os caminhos para se andar por dentro dela toda nos tornam curiosos.




Gosto de fotografá-la de vários ângulos e por toda ela, e as fotos sempre me encantam. Os coretos a tornam romântica e terna. Nós os temos de todos os tamanhos e alguns dos pequenos parece que foram postos lá de propósito só para os namorados e para as crianças.



É graça de Deus para quem pode observar tanta beleza e harmonia. As crianças pequenas podem andar de bicicleta sob os olhos de seus pais e os caminhos são vários para que elas se entusiasmem e deliciem. O coreto principal, que também vai enfeitar aqui é palco de apresentações de danças típicas, de bandinhas, de brincadeiras e tudo que encanta o coração e os olhos de crianças e adultos.




A praça nunca é um passeio à toa porque ela inunda nossos corações de boas imagens, bons sentimentos.



E o verde que ilumina toda praça está fortalecido pela presença dos vendedores de água de coco, que fazem grandes pilhas de coco verde que enfeitam ainda mais. É muito bom sentar, depois de ter caminhado e suado, tomar água de coco e saborear toda essa beleza. Belém é tudo de bom!

domingo, 3 de agosto de 2008

Igreja do Rosário

Essa igrejinha simpática e aconchegante fica bem pertinho da Praça da República, onde acontece a Feira do Artesanato todos os domingos. Padre Ronaldo é muito simpático e a missa é 10, porque o sermão dele é feito com palavras simples e esclarecedoras, que vão direto ao coração.

Mas o que me encanta mesmo é o coro e as músicas escolhidas por ele para incrementar a missa. Todos os componentes do coro são afinados, estão sempre presentes – mesmo quando Belém inteira estava nos balneários, eles estiveram sempre lá nesse julho passado – e também são muito simpáticos. São senhores e senhoras, alguns com cabelos que o tempo branqueou como algodão em flor, mas a disposição de todos é de adolescente. Eles cantam mesmo quando já estamos indo embora. Isso nos deixa leves e a missa parece que se perpetua por toda semana em nós.

A missa das 8:30h. na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos é como em algumas pequenas igrejas da Europa, onde todos se conhecem, e acaba virando uma festa de encontro da família. É bonito de se ver. Na saída ainda temos o pessoal que vende coisas muito gostosas para o café da manhã. São delícias paraenses às quais é difícil resistir. O domingo fica completo.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Cheiro


O Pará, na bandeira do Brasil, é aquela estrela separada das outras. E, realmente, o Pará é um estado particular, diferente, de terra fértil, cortado por grandes rios da bacia amazônica, florestas cheias de riquezas que o homem vindo de fora - sul, sudeste, centro-oeste e nordeste - está destruindo. Possui em seu território muitas tribos indígenas que detêm o conhecimento da maravilha que Deus nos confiou – ervas, folhas, raízes, cascas, pós e muito mais, advindos da floresta tropical amazônica – e que deveria representar para todos nós a riqueza maior e inestimável para preservação. Mais ainda que isso, e, uma riqueza que a origem indígena nos legou, foram as relações interpessoais. É uma coisa de pele, de toque, na maneira de se relacionar com as pessoas que estão à nossa volta, e que é muito bonita. O povo paraense se toca ao conversar uns com os outros. Por onde quer que a gente ande assiste a manifestações de carinho. As pessoas que não se conhecem se falam como se se conhecessem - no ônibus, na fila, no supermercado, no banco da praça, onde for. Há nisso muito da cultura indígena que agrega, se achega, soma, ao invés de excluir. Assim, por essa necessidade de se relacionar com mais proximidade e aconchego quando se encontra um amigo na rua, ele te abraça demoradamente, ele toca no teu braço ao conversar contigo, segura na tua mão sem outra intenção qualquer que não o toque. Ah, mas aqui nós temos uma coisa maravilhosa chamada “cheiro”. A gente gosta de cheirar o cangote uns dos outros, não é engraçado? Assim, a gente se abraça, faz carinho nos braços e dá um cheirinho no pescoço da pessoa que é por nós querida de maneira particular. Mas a gente pede: “me dá um cheiro?”, ou "cadê meu cheiro?". Então, o cheiro daquela pessoa entra de maneira mais intensa em nós e, espiritualmente, é como se tivesse ficado um registro, uma marca, que nossos sentidos revelam na sua proximidade. Geeennte, é bom demais!! Um cheirinho é muito pai d’égua!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Particularidades

Quem me lê tem a falsa impressão de que o Pará é só maravilhas, que não há disputa de terra, que as pessoas não sofrem assaltos, que é o mundo bíblico. Não é nada disso. É que escolhi falar das coisas boas. Já que as rádios, os jornais e os telejornais estão cheios de notícias tristes e escabrosas sobre desmatamento, sobre homicídios, assaltos, invasão de terras, desastres, e toda sorte de maldade e violência que o homem pratica contra seus semelhantes em total desrespeito às leis de Deus e da vida, resolvi voltar minha atenção para as pequenas coisas do dia a dia, para os detalhes bons, para as particularidades que atraem porque são boas. Nós também temos notícias boas, coisas boas para serem apreciadas por todos. Nós não somos só essa terra onde os governantes pensam mais em seus bolsos, em seus interesses políticos e financeiros do que no seu povo. Existe muita gente boa que convive diariamente com a pobreza e a dificuldade, com as condições precárias de saúde e saneamento, a sujeira e o lixo. Mas resolvi ver o lado bom, resolvi falar daquilo que me toca o coração e que o diferencia dos outros estados. Não sou alienada mas acho que podemos sim conviver com boas notícias e chamar atenção para o que temos de bom e que sempre fica relegado a plano inferior. São pequenas particularidades que nos diferenciam pra melhor.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Simpatia e Sinusite

A Amazônia guarda muitas receitas: de comidas e de remédios, mas também simpatias e coisas mil. Uma simpatia que é tira e queda e que nos parece impossível de dar certo é para criança pequena, que não fala, só aponta para as coisas e se comunica por sons e gestos apesar de não haver nada nelas fisicamente que as impeça de falar, são aquelas crianças que nos parecem preguiçosas: entendem tudo, mas não falam nada. A simpatia é: dar de beber a elas numa concha ao invés do copo. É preciso fazer isso sete vezes. É impressionante: a criança desata a falar que não pára mais! O que é que tem a ver uma coisa com a outra?

Quando minha filha era pequena foi-nos visitar um rapaz que me ensinou um remédio natural para a dor de garganta que a acometia constantemente e de maneira violenta. Passei a fazer esse remedinho desde então. Ele tanto serve para dor de garganta quanto para sinusite. Há vinte anos faço esse remédio e ele tem ajudado muita gente Brasil afora. Não é segredo algum. Não há patente, é um remédio de conhecimento popular e toda gente pobre que não pode consultar médico e se trata com ervas, chás, ungüentos, implastros e beberragens o conhece. Ele é feito com ingredientes comuns aqui na Amazônia e leva, entre outras coisas, andiroba, copaíba, cabacinha, cânfora e sebo de carneiro. Faz vinte anos que sirvo a Deus com esse instrumento que me foi dado a mim para o Bem.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Amazônia, império das águas


Lá vem ela! É a chuva que nos contempla todo final de dia, refrescando a noite, molhando as plantas, mantendo o verde. Engraçado que, apesar de chover em Belém quase todos os dias a maior parte das pessoas não possui guarda-chuva. Quando morei em Fortaleza, que enfrenta longas secas, achei estranho que as pessoas todas com as quais convivi possuissem guarda-chuvas. E não chovia nunca! No Rio ou em São Paulo é normal, quando começa a chover, a gente passar 5 dias, uma semana, 10, 15 dias seguidos sem ver o azul do céu. Tudo fica cinza e triste, e dê-lhe chuva. Aqui não é assim. Além da chuva nos visitar quase todos os dias, depois que ela passa todos já estão na rua sem guarda-chuva, andando normalmente, o céu fica azul novamente, ou apenas nublado levemente, o sol brilha de novo. Hoje o entardecer está lindo. E acabou de chover. O céu está matizado de amarelo, rosa e azul e uma gigantesca nuvem cinza paira como se fosse um grande OVNI sobre a cidade.

domingo, 27 de julho de 2008

Mercado de São Brás


Quando se vai pra São Brás a gente passa pelo túnel de mangueiras altaneiras da avenida Magalhães Barata, até visualisar uma construção imponente que preenche todo o final da avenida - é o mercado de São Brás, com uma calçada larga e teto preto e branco, tem largas paredes de quase um metro de largura, passando também pela caixa d'água, que é muito linda. Quando eu aprender, colocarei fotos dessas maravilhas pra vocês verem e saberem de tudo que Belém reserva aos que aqui vierem.
As férias de julho estão quase acabando. Quando penso em praia penso em Mosqueiro, uma praia de rio com ondas que às vezes chegam a um metro e meio, com um volume de água que mais parece um mar, só que marron. As ondas são fortes e, nas suas margens viajam os tralhotos, um peixinho pequeno que fica sempre na beirinha, que nem criança pequena. A praia do Paraíso é a minha preferida, e onde tantas vezes acampei. Havia um barranco e lá embaixo podia-se ficar na sombra das árvores, e pular na água de um grande galho de árvore que ficava dentro do rio, deitado, servindo de trampolim.
Quem vê o Paraíso pela primeira vez fica embasbacado porque é difícil compreender ondas tão grandes em um rio. Também é difícil não ficar olhando para um rio que se perde no horizonte e se encontra com o céu, bem como um mar. O barulho das águas, a calma do lugar, o sol, as árvores, o banho gostoso, propício às brincadeiras é inesquecível para quem está acostumado a pequenos rios e a rios estreitos. A vontade que dá é de ficar olhando muitas horas, bebendo aquela beleza que Deus colocou ali pra gente não se esquecer Dele. A areia é grossinha, como se as pequenas pedrinhas tivessem derretido ou se esfacelado pra massagear nossos pés. É uma delícia pisar ali! Gente! Vocês não têm idéia de como a Amazônia reserva surpresas!

sábado, 26 de julho de 2008

Água de coco na Batista Campos

Sábado que amanheceu amarelo e virou azul. Tudo lindo. Tudo perfeito, como só Deus é perfeito.
A Praça tem a capacidade de alegrar nosso espírito, porque é uma mistura grande de coisas e gentes de todos os tamanhos e idades, lindas paisagens, água de coco gelada, vendedor simpático e atencioso, crianças brincando, velhos conversando, um sol maravilhoso e uma calma incomum. Mas é julho, e em julho Belém é assim mesmo - mais nossa. O velho Santa Rosa lá, enfeitando a esquina com cores fortes. Os bancos estão conservados, limpos e, para qualquer lado que se olhe nossa retina fotografa o belo. Depois é andar pelas ruas com túneis de mangueiras e sombra farta, comprar farinha na feira e comer caranguejo no almoço. Muito pai d'égua!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Verão na terrinha


Enquanto sul, sudeste e centro-oeste estão no frio, nós aqui em Belém estamos em plena festa do verão. Praias, balneários, muito sol... todo mundo viaja para algum lugar nessa época e Belém fica vazia, às vezes como uma cidade fantasma. É muito bom também pra quem fica. É uma tranquilidade só. Não tem muito trânsito. E, nesse ano em particular, São Pedro tem sido generoso conosco: todo dia no início da noite vem aquela chuvinha maravilhosa pra refrescar e deixar a noite com jeito de sorvete do Ice Bode. Bom demais!!! Te amo, Belém!