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sábado, 11 de outubro de 2008

A caixinha de miriti

O miriti é uma fibra tirada de uma palmeira daqui da Amazônia. Ele é o nosso isopor natural, o que não polui. Quem não conhece a Amazônia não pode imaginar tudo o que nossos artesãos são capazes de fazer com o miriti. Nessa época do Círio eles vêm todos pra Belém, misturar-se aos fiéis da procissão e vender sua arte colorida com tintas também naturais, que tanto encantam as crianças e adultos bobos como eu.
Nossos artesãos sabem que a multiplicidade de cores atrai os olhos das crianças e que, pelo fato da festa do Círio de Nazaré acontecer próxima ao Dia das Crianças, os pais quase sempre cedem e compram os brinquedinhos de miriti para seus filhos - também porque eles são bem baratinhos.
Abaetetuba, cidade próxima a Belém em viagem por água e por terra, é o pólo produtor. Lá estão sediados muitos artesãos, cada qual com seu estilo e com seus motivos. Mas, independente de quem seja ele, os brinquedos são de uma pureza indescritível e reproduzem sempre formas de bichos familiares. Então, tem sempre muita cobrinha, tem o pula-pula, o camarão, e o come-come e tantos outros, e todos com movimento, como vocês poderão ver nas fotos que farei amanhã e postarei aqui para alegrar seus olhos. Todos pendurados onde? Numa vara furada de mi-ri-ti! Ela faz os brinquedos adquirirem movimento enquanto o artesão anda pelos caminhos da procissão. É ir-re-sis-tí-vel! Também vou comprar o meu!
Eu ganhei uma caixinha de miriti! Tão linda, tão bem feitinha, tão bem acabada... dentro dela, além de uma camiseta que dá certinho em mim e uma medalhinha com a imagem da santinha, ela veio cheia de perdão e de amor. Fiquei tão emocionada que este círio já entrou pra minha história, e agradeci muito a Deus todo bem que tenho recebido em minha vida. Amanhã estarei vestida com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré pra ver a santa passar na corda, beber toda emoção da fé de todos os romeiros vindos dos quatro cantos desse nosso Brasil e sentir-me irmanada com esse povo tão especial. Então farei as fotos que vão encantar vocês.
Viva Nossa Senhora de Nazaré!! VIVA!!!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Anjos da Praça

Muitas cidades do Brasil têm praça da República. Belém também. Mas a nossa tem anjos.
Essa é a diferença. Além do tamanho - nossa praça, de tão grande, está dividida em três. A parte do chafariz é triangular e relativamente pequena.
A parte onde está situado o teatro da Paz - esse monumento à era da prosperidade que a borracha nos legou
tem ainda um grande coreto que está sendo restaurado,
e belas estátuas. Essa parte vai da av. Nazaré até a rua do teatro que, para o lado direito, em direção ao Basa, é a rua Carlos Gomes. Depois vem a grande praça, num bloco só de pura beleza. E lá estão eles, sentados no obelisco
protegendo e vigiando. Eles não saem de lá e qualquer um pode apreciá-los.
Os meninos descalços, os desempregados, os mendigos e qualquer transeunte cansado pode repousar suas pernas e olhos nos bancos da praça, à sombra de tantas árvores que a enriquecem. A moldura da nossa praça são os túneis de mangueiras, mas há também a grama bem cuidada e verdinha que - pasmem os paulistas! - é para ser pisada, sentida, admirada nesse planeta sol e chuva.
Os caminhos da praça sobem e descem. E há pequenos coretos onde se pode namorar,
e laguinho com belas aves muito brancas como requer aos anjos guardiães. E mais: as pessoas se falam sem se conhecer, como se fôssemos uma grande família com muitos parentes que não víamos há muito tempo e que encontramos na praça. E as crianças nos atendem e os descalços têm fome - a fome do Brasil - fome de grãos e de letras, fome de cuidados e de amor.
As mangas começarão a cair agora no final do ano, sempre depois da chuva ou no vento que a anuncia. E tem também, bem ali próximo ao obelisco, o pequeno teatro que leva o nome do nosso famoso e saudoso maestro Waldemar Henrique e que é tão aconchegante. Nossa praça é uma delícia e, aos domingos, a feira do artesanato a enfeita com outras cores e traz muitas pessoas a passear por suas alamedas. Essa é a nossa praça da República!

Círio

Aumentou o movimento na cidade. Muita gente em todos os lugares. Tudo está sendo preparado com antecedência para o início da quadra nazarena, que se inicia amanhã, sábado, com as procissões. As casas receberam pintura nova, dentro de casa tudo foi faxinado - tudo reluz. Os corações também se prepararam para a santa adorada com peregrinações, reuniões para o terço entre vizinhos e mimos que aproximam as pessoas, desarmam os espíritos e enchem os nossos corações de muito amor e solidariedade.
E temos também os fogos que, todos os dias nos lembram que o tempo é para amar e ter esperanças renovadas na fé à misericórdia de Nossa Senhora de Nazaré.
E as luzes: daqui de casa posso ver os fogos do anoitecer iluminar e enfeitar o céu. Vejo também uma das torres da Basílica toda serpenteada de luz, assim como a roda-gigante do parque. A sensação de pertencer a tudo isso é indescritível. Sinto-me abraçada e acolhida.
Depois, mesmo com os olhos fechados, o ruído de muitos pés andando sem cessar, na expectativa de ver a santa passar no meio da multidão, protegida pela corda que tanto reflete a fé dos paraenses, nos mostra que a vida deve ser sim o sacrifício com alegria de servir e amar sempre, sem nunca perder a esperança.
Domingo, quem tiver fartura com maniçoba e pato no tucupi, poderá chamar seu vizinho desvalido para a sua mesa e estar irmanados nesse tempo de amor.
FELIZ CÍRIO, meus queridos, para quem tiver o coração amoroso, para quem tem fé como o paraense!